Na praia, nas pedras o vento brame,
Passa o sopro rápido, assalta o silêncio,
Rasteja rente ao mar e o empurra,
O oceano atiça.
O mar: com feroz voracidade
Sepulta os desafortunados navegadores.
Nele jaz Alexandria, jaz o mito de Atlantis;
Ainda mais misterioso que eles
E contraditoriamente cheio de vida.
O vento instiga o manto d’água,
Contorce-se impassivo, compulsivo.
Contrai-se mais, avança a orla,
Saliva toda a areia, saboreia pequenas pedras.
Noutro front,
As águas guerreiam contra as pedras do mirante.
O vento vivificado uiva,
Solta sussurros, silvos.
Ondas feito martelos
Desmancham-se estrondosas
Contra as rochas.
De brado amedrontador
Lançam-se sem vacilo
Quais kamikases desesperados,
Cheios de ódio.
As pedras, ao contrário, não ameaçam.
Esperam, talvez ao fim das eras,
Tão silenciosas, tão mansas,
Todavia tão firmes.
As ondas abordam o mirante num turbilhão altissonante.
As pedras permanecem no mesmo lugar.
Somente uma delas se move,
Mas logo volta à posição inicial.
Depois, outra onda ataca,
Mais outro turbilhão,
Outro, outro e mais outro
E é assim toda a tarde,
Cai a noite e o outro dia.
Passam-se os dias e o oceano altivo
Em todo seu escândalo
Não conseguiu mover as pedras.
Sou como essas ondas.
Lanço contra os céus impropérios
Encharcados de orgulho,
Me debatendo contra as pedras.
Todas minhas queixas
São tão tolas frente à brevidade da vida.
Por mais que eu confronte,
Recalcitrante e mau,
Meu Deus permanece impassível.
Fixo, em sua paciência monumental.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
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