quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Aquele senhor cativante, sempre pronto com um sorriso no rosto e uma piada ou uma brincadeira para gargalharmos todos, esse é meu terceiro pai. Ele é meu pai porque é pai daquele de quem herdei os genes. Não somente por isso, é meu pai porque me ensinou muitas coisas. Em sua estante, em sua casa, entre livros muito interessantes, um deles se destacava: volumoso, capa de couro e letras douradas, guardava histórias que mudariam minha vida. Meu avô, tão apaixonado por conversar das coisas de Deus me fez admirá-Lo, o que depois aprendi a adorá-Lo.
Tenho saudade dos tempos de infância, quando passava as férias caminhando com ele na rua (eu que tinha de correr para acompanhar seu passo apressado), conversando à noite sobre qualquer assunto, indo à igreja e outras tantas coisas que fazem parte importante de mim. De estar junto, aprendi coisas preciosas, como o respeito ao próximo, a cordialidade e o apreço a coisas simples, além da admiração que tenho pelas pessoas mais velhas, que viveram muitas vezes mais do que eu.

Meu segundo pai, Deus me presenteou. Na verdade foi cem por cento pai e uns ciquenta por cento mãe, visto que teve de exercer um pouco mais de suas funções. Um homem sério por fora, com o coração de manteiga. foi ele quem trabalhou duro para me dar abrigo, roupa, alimento, educação e uma série de conselhos que ainda carrego comigo, pois me fizeram desviar de muitos perigos. Ele sempre me ensinou que a vida é dura e não é nenhum faz-de-contas, que é preciso algumas doses de sofrimento para chegar em algum lugar.
Meu pai é meu herói. E me arrependo bastante de não haver percebido essa presença diária em minha vida. Mas heróis são assim mesmo, evitam aparecer. Ele nunca precisou me bater para me disciplinar, ele nunca gritou comigo para eu o respeitar, ele nunca disse que me amava, mas na verdade ele nunca precisou me dizer, pois ele sempre demonstrou em atos seu amor por mim.

Meu primeiro pai foi quem me criou. Seu amor por mim nunca teve fim, mesmo nas épocas quando eu era um filho rebelde e fazia piada dEle, mesmo quando eu fazia as coisas as quais Ele me ensinou a evitar, quando eu fugi pelo caminho da escuridão. Ele me ama de uma maneira cuja explicação me foge de minha capacidade de explicação. Para que eu voltasse, decidiu morrer por mim, mesmo me sendo imerecido, mesmo eu podendo ignorar seus esforços, optou pelo risco e se pôs naquela cruz, a mesma que está estampada em minha visão e me fez mudar. Posso lhe dizer que não sou muita coisa, mas o pouco que há em mim é por causa dEle, porque ele próprio me ensinou e me acolheu de volta... e, sabe, como estou ansioso para voltar ao lar!

Tudo o que sou eu agradeço a eles: Jonas, Luiz e o Deus Eterno, meus três pais.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Não Sou Poeta

Essa é minha afirmação, gosto de escrever e de me expressar, mas me sinto imaturo para me considerar um poeta, escrevo umas coisinhas, umas porcarias que o pessoal chama de poema, umas brincadeiras com palavras, meio sem nexo, entanto são uma forma de expressão, como um grito, mesmo desafinado, não deixa de ser uma forma de comunicação.

Não sou poeta

Não sou poeta
(embora me afirmem ser)
Poeta é aquele que exala inspiração dos seus poros,
que consome em chamas frias toda sua vida;
enquanto somente brinco com palavras,
penetro no universo semântico
com os olhos arregalados de um menino entre homens
e trelo com tudo o que tem,
como se montasse bloquinhos de Lego.
erigindo construções monolíticas com minhas palavras.

Jogo dados com a sintaxe, a fonética e os morfemas;
embaralho os verbos num trunco truncado.
Por isso meus versos são tão bobos,
de amador sem esmero,
parco de fundura e sentido,
cavando dois palmos adentro de um coração tão fundo.

Poeta também é aquele que toma as rédeas
e doma a poesia, um manso alasão.
Me sinto como se tentasse domar dragões alados:
impossível; rebelde a poesia voa além do firmamento
levando a inspiração que tão volátil se exaure.

Os poetas de verdade criam,
eu somente absorvo - antropofágico, autófago;
os poetas observam o mundo pela janela
e pelas janelas de suas retinas,
eu só passo direto no mundo sem me abstrair,
como se fora estrangeiro.

Embora não tenha o dom da escrita,
assim mesmo minha vida torna-se a mais bela poesia,
mais bonita que o livro de Robinson Crusoé,
que os romances piegas
ou mesmo aqueles filmes dos anos trinta.

Eu vivo uma história de amor e de guerra,
de uma batalha que não é mais de maus contra maus,
onde o sangue e o estrondo de bombas ecoam sobre a terra.
Vivo uma guerra mais cruel,
contudo uma guerra onde há o lado do bem e a vitória.
Uma guerra além dos olhos onde há a esperança e o resgate,
Aliados e traidores, vitórias e derrotas,
soldados que morrem por outros e vivem, e onde há a verdadeira vitória.

Ser Amigo

Esse poema fala muito de mim, acho que é um dos poucos que me explicitam. Escrevi e o entreguei no dia do amigo para algumas pessoas que eu considerava amigo. Se vc quiser "ligar os pontos", tinha escrito para a "sementinha que nunca cresceu", esperando ela crescer por entender o significado da amizade. Pois bem, se vc já leu os poemas anteriores, perceberá que não deu certo, "Somente não pude realizar o que somente o Espírito que dá vida pode fazer: - torná-la viva".
Praticamente falo de mim mesmo nesse poema: falo sobre ser amigo, falo das minhas dificuldades de conquistar amigos cujo coração enrijeceu e tudo converge para a sementinha (aquela fria, má, insensível e inóspita sementinha).
É assim que eu sou com meus amigos, os considero, me dedico a todos, quero oferecer o melhor, quero ajudar, mas dói muito quando o amigo não é mais amigo. Por favor, não façam isso!

Ser amigo

Não existe algo mais difícil do que ser amigo,
No entanto, não há algo mais recompensador.
O amigo está sempre próximo:
A maior distância que ele possa estar é ao lado,
Ao lado nas dificuldades e em qualquer situação
Lutando contra os mesmos males,
Tendo como próprios os sonhos do companheiro.

Ser amigo é tornar sagradas as pequenas coisas
Um pequeno presente torna-se a jóia mais cara
E nas lembranças, imagens que câmera nenhuma captou,
Há imagens inestimáveis.

Ser amigo é tornar dias festivos os aniversários
e as datas mais significativas.
Maquinar nas madrugadas planos infalíveis
Que surpreenda, cative e constranja.
Para isso conhece quais as coisas
Que fazem o coração bater feito tambor.

Ouvir o outro destrancar o coração
É uma doce fragrância de incenso
Assim como são também olorosos e cheios de amor ouvir os conselhos:
Tão afiados quanto lâminas
Tão macios como plumas.

Ter o sorriso do outro amigo
A obra de arte mais expressiva do que um Da Vinci, um Van Gogh.
Não há mão de pintor mais habilidosa,
Deus pintou as curvas do sorriso com Seu amor e Seu esmero.

Pronunciar o nome do colega é
Como pronunciar palavras mágicas,
Evocá-lo junto com a saudade que instiga o coração
E o ouvir da sua voz é igual a ouvir os cânticos de querubins.
É gargalhar, quando o outro esboça um sorriso,
É chorar numa longa vigíla, enquanto o outro chora.

É procurar o amigo nas maiores distâncias,
Mesmo tendo de atravessar milhas e milhas,
Tendo de transpor a distância do tempo
E neste tempo enfrentar a distância intransponível
Do coração que adormeceu.

No entanto, o amor
(e por conseguinte a amizade, que de amor se alimenta)
Não é uma ciência exata,
Pode-se abastecer o colega de amor até transbordar,
Todavia não muda, se não for da decisão dele.
Por isso ser um bom amigo não significa ter bons amigos,
Embora sê-lo seja ensinar os outros a serem
Amar nunca rima com receber,
Tampouco ser ouvido ou considerado.
Talvez provocar um sorriso seja algo inédito
E a sede de ver o outro feliz nem seja saciada,
Como um sonho, que talvez exija tirar os pés do chão.

Ser amigo é manter-se feliz e cheio de visão
Mesmo enfrentando frio e indiferença.
Aprendendo a amar cada vez mais incondicional
Diante dos ferimentos,
Vertendo desses ferimentos o mel mais doce,
Ignorar a dor e converte-la em estima
E quando o coração chora,
Ser possível esboçar ainda um sorriso.

E assim como a fênix torna à vida das cinzas,
Fazer ressuscitar a esperança de ter o amigo de volta
Quando se vai para longe da lembrança.

É ignorar os erros, os desconfortos e a si mesmo.
Pois o peso da cruz, que se deve carregar um do outro
Tornar-se-á tão gostoso de se carregar e tão leve
Quanto embalar um bebê nos braços.

O copo

Esse poema escrevi também depois de uma devocional matinal, depois de estudar sobre a repreensão que Jesus fez contra os judeus por causa de tanta hipocrisia. Durante esse estudo, analisei minha tendência de ensinar coisas que eu não estava praticando, de muitas vezes querer disciplinar pessoas sem eu mesmo ser exemplo.
Bem, eu não quero ser hipócrita, quero ser um homem verdadeiro, transparente e que deseja mudar, mudar sempre. Por isso eu gosto de ser sincero, sou quem realmente sou, me abro pros meus amigos, gosto que me digam o que está errado em mim. Tenho medo de ser um homem somente de palavras, que diz um monte de coisas bonitas mas vazio por dentro, ou como Cristo disse: "um túmulo caiado por dentro".

O copo
(Mateus 23:25-26)

Um copo opaco esconde tudo o que há dentro,
Um copo de cristal se priva de cores
E o vidro colorido pode adquirir diversos matizes,
Nele posso gravar diversas figuras,
Obra de exímio vidraceiro.

No entanto, de que me servem ornamentos
Se o conteúdo é de mais valia?
De que me serve um copo
Se não vejo a cor do vinho?
As cores ocultam o veneno
Na coloração opaca do vidro.

Uma alma hialina
Revela tudo o que em si comporta.
Não há nada mais belo
Do que um coração sincero
Disposto a mudar
Pronto a ser lavado
E a se tornar mais cristalino
Que as vidraçarias mais finas.

Num cálice de cristal
Deus põe de Seu Espírito
E bebe até saciar.

A fortaleza

Bem, depois de um tempo sem escrever quase nada por não ter tempo nenhum, comecei a olhar mais comtemplativo para meu Deus. Decidi estudar com mais afinco uma das características mais fortes de Deus: o seu amor.
Várias vezes Deus fala do seu cuidado, que nos ama, que está atento às nossas dificuldades e quando eu lia essas passagens na Bíblia durante minhas devocionais matinais (Tempos com Deus), sempre deixava gravado um poema, como uma oferta de dedicação ao Senhor Poderoso, pelo que Ele me fez ver e me impactou de admiração.
A passagem fala:

Deus os encontrou perdidos no deserto, numa região onde viviam animais ferozes. Chegou perto, cuidou deles e os protegeu como se fossem a menina dos seus olhos.
Como a águia ensina os filhotes a voar e com as asas estendidas os pega quando estão caindo, assim o Deus Eterno cuida do seu povo.
Ele os guiou sozinho, sem a ajuda de outro deus.
O Eterno deixou que o seu povo dominasse as montanhas, e eles se alimentaram das plantações dos campos. Deu-lhes mel de abelhas nos rochedos e fez com que as oliveiras
produzissem em terreno cheio de pedras.
Alimentou-os com leite de vaca e de cabra, deu-lhes a carne dos melhores carneirinhos, carneiros e bodes, o melhor trigo e o vinho mais fino."

Deus cuida de nós, nos dá muito e nos deixa seguro qual uma mamãe águia, nos alimentou com o que tem de melhor, nos deu fartura mesmo em tempos difíceis...
Glórias ao Santo Deus!

A fortaleza
(Dt 32:10-14)

Em ti estou seguro, meu Deus.
Neste mundo de pecado e ilusão
Quero algo que meus olhos não vêem,
Entanto me deixam tranqüilo,
Na fortaleza mais segura
Onde muralhas não existem para proteger
E minha casca é somente uma casca,
Um vaso de barro onde guardo um tesouro,
O tesouro mais precioso:
O Espírito
E a presença imaterial que me envolve.

Pastor Zeloso

Já me plagiaram com esse poema... é dose a falta de criatividade... mas eu vou ficar com raiva de você não, Kleiton.
Esse poema vem da Escritura que está em Isaías, e Deus diz:
"Escute, povo de Israel; escutem, todos os descendentes de Jacó que ficaram
vivos! Desde que vocês nasceram, eu os tenho carregado; sempre cuidei de vocês.
E, quando ficarem velhos, eu serei o mesmo Deus; cuidarei de vocês quando
tiverem cabelos brancos. Eu os criei e os carregarei; eu os ajudarei e salvarei.
"Com quem é que vocês podem me comparar? Quem é parecido comigo?"

Pastor Zeloso
(Is 46:3-5)

Desde que eu estava sendo formado
No ventre de minha mãe
Teus olhos sempre se mantiveram atentos.
Quando meus ossos se formaram
E um corpo começou a ser esboçado
Tuas mãos me acalentavam
Revolvendo-as sobre mim
Protegendo-me de todo perigo.
Desde o nascimento tens me carregado
Como um cordeirinho
Seguro em teus ombros
Seguro em teus fortes braços
Carregado de volta pro rebanho.

Até no dia em que minhas têmporas alvejarem,
Quando minhas pernas não tiverem mais força
De tanto andar na terra,
Até no dia em que esvair
Toda força da minha juventude,
Quando meus olhos só virem um borrão
E meu peito perder o fôlego,
Ficarei feliz.
Pois desde criança o Senhor me sustém
E o milagre da vida tem sido a fonte da juventude.
Sempre serei jovem no Senhor,
Pois o Senhor me reveste de força
Desde minha criação.

Onde você está

Esse poema é para meu melhor amigo, o Robson. Paulo tinha seu amigo Timóteo, Antoine de Saint-Exupèry tinha seu Guillaume, Tolkien tinha seu C.S. Lewis e eu tenho meu melhor amigo:Robson. Inventamos de fazer um sarau que na verdade era uma festa de aniversário pra ele, cada participante tinha de dar um testemunho sobre ele e cada um falou coisas e mais coisas. Eu e outro irmão preparamos um poema, esse é o meu. Na verdade, o sarau começou com uma música, cuja letra ele tinha escrito, mas faltava a melodia... eu conhecia a letra e sabia cantá-la, então outro amigo fez a melodia e cantamos ao som do violão. Quando ele ouviu a música, ele entendeu que estávamos fazendo uma festa para ele. Robson ficou bastante grato, quase a chorar, foi uma alegria compartilhar com ele.

Onde você está

Deus me deu um caminho consagrado para trilhar.
Um caminho bom, mas que não é fácil
e para seguir esse caminho, Deus me deu amigos
que me acompanham a vida toda,
oferecendo força e ânimo
para subir as pedras, ultrapassar barreiras,
atravessar rios e passar por espinhos.

E desses amigos que Deus me deu
um se destaca.
Esse que sempre acompanha meus passos,
que se soma a mim mesmo
e revigora meus pés
e meus sonhos de avançar.

O tempo passa rasgando os dias do calendário,
semanas passam e meses
numa sequência ininterrupta.
As células do corpo multiplicam-se e multiplicam-se
e o corpo amadurece nesse fluxo.
Nesse mesmo fluxo a alma amadurece.

De onde veio a força,
os pés fortes, o coração rijo
e meu olhar além do horizonte?

Quando olho pra mim mesmo
eu sempre sei onde você está.

Foi pelo teu imitar a Cristo
que pude tomar de ti emprestado
o amor indelével a Deus,
o laço apertado com o Senhor,
os pés fiéis no único caminho,
o ajoelhar prostrado,
o lavar os pés,
a amizade sempre construída
repleta de atenção
e a alegria que brota como uma planta
que ignora estações, climas secos ou úmidos.

Por eu imitar você, Cristo e você vivem em mim
e esteja você perto, esteja eu longe,
quando olho pra mim mesmo
eu sempre sei onde você está.

Deus-mãe

Esse poema fala do amor de Deus. Ele sempre é visto como um Pai, mas acredito que Deus tem um grande coração, um coração de mãe. Esta Escritura está em Isaías e diz:

"O Deus Eterno responde: 'Será que uma mãe pode se esquecer do seu bebê? Será que pode deixar de amar o seu próprio filho? Mesmo que isso acontecesse, eu nunca me esqueceria de vocês.
Jerusalém, o seu nome está escrito nas minhas mãos; eu nunca me esqueço das suas muralhas.'"

Quando li essa passagem, fiquei muito feliz com o cuidado que Deus tem por mim, como Ele cuida de mim e nunca se esquece. quando eu li "o seu nome está escrito nas minhas mãos", fiz o mesmo por Deus, escrevi com uma caneta na palma da mão o nome de Deus e naquele dia não me esqueci dele, pois tudo o que eu fazia, em todo momento, eu lia o Seu nome.

Deus-mãe
(Is. 49:15-16)

Não há amor mais puro
Do que o de um filho por sua mãe,
Mãe que o gerou, amamentou e o criou.
Nunca irei me esquecer de ti,
Pois sei que nunca te esqueces de mim.
Tatuei em meu coração todo teu amor,
Gravei de ouro todos os teus feitos
E o meu corpo está cheio de marcas
Que não me fazem esquecer o teu amor.

O amor que me salvou jamais olvidarei.

Metamorphosis

[poema antigo]

O animal nasce,
Larva, arrasta-se,
A devorar folhas sua existência resume.
Odiada e caçada criatura,
Comer é sua sina,
Repugnante assassina.
E lentamente, sua boca – praticamente único órgão
Constrói sua morada...
...dias passam, inerte crisálida
...tempos passam, dias passam
E a criatura rompe a seda que a esconde,
Põe seu novo corpo para fora
E voa, com as asas que não existiam.
Pousa numa flor, que belo!
E no campo,
A festa para as borboletas que acabam de acordar.
E pensar que elas já foram lagartas!
Mas eu devo confessar...
...essa lagarta já foi meu coração!

A Algum amigo

Hoje preciso de um amigo.
Revirei meus versos
E refiz minhas convicções.
Anteontem, ontem, hoje e talvez amanhã
São dias de sonhos tenebrosos.

Visitei as multidões,
Visitei os caminhos bons da memória
Recortando as recordações
Para ver se te encontro novamente por perto.

Eu pensava ser forte,
Descobri o quanto é impossível acumular
Tudo no peito e trancá-lo,
Sem gritar,
Sem ranger os dentes,
Sem chorar,
A linha é tênue para eu me embrutecer.
E tantos olhares são indiferentes ainda.
Estou quase cortando os fios que ligam a mente ao coração,
Resetando as coisas bonitas
Que de tão bonitas machucam.

Assumo que castelos nas nuvens não existem
E a realidade parece tão dura, apesar de óbvia.
Mas não quero me enrijecer com a realidade.

Hoje preciso de um amigo
E não adianta me dizer que estás perto
Se tua voz ecoa de uma montanha íngreme
A quilômetros de distância.
Palavras não esquentam,
Frases feitas aquecem como a chama de um fósforo aquece no inverno glacial

As desculpas,
Ditas ou inauditas,
São a melhor maneira de matar uma amizade sem ninguém ficar sabendo.
Os maus, nas suas maldades,
Empalam, crucificam, torturam;
Os amigos, muitas vezes sem querer
(ou querendo?)
Mutilam, torturam uma amizade com tanta omissão!

Te ensinei o valor incalculável
De alguém em quem confiar;
Te mostrei como o carinho,
Como o eu te amo cotidiano,
Incansavelmente repetido
Podem derreter as crostas de gelo
Na superfície das pessoas;
Te ensinei a derrotar máscaras,
A entrar no cerne,
Mesmo frente a tantos bloqueios.

Tu sabes em quantos campos de batalha
Entrei,
Quantos caminhos tortuosos
Caminhei,
Quanto silêncio e laconismo
Ouvi
Para firmar as estacas
Da casa onde o nós habita.

Eu não posso ser egoísta
Exigindo de ti o que não podes dar
Não ouso te julgar
Numa tentativa de te acorrentar a mim.
Mas hoje preciso de agasalho,
Dum abraço aberto,
Do carinho fraterno,
Do olhar atento,
Das palavras tanto doces como afiadas
Que ferem, mas curam.

Também não quero forçar amizades,
Vou esperar os frutos nascerem
E ver onde brotam.
Pois apesar de tudo,
Amizade é sinônimo de reciprocidade
E estes versos são para te acordar
E são amigos os que sabem responder.

Não espero me consumir em questões ou lágrimas,
Conheço a Luz e o Grande Amigo
E este sempre está do meu lado
E carrega comigo meu fardo enfadonho
Mas durante isso, vou te esperar,
Te preparo um grande banquete, amigo,
Para quando você chegar.

Eu não mereço

Época bem difícil... Estava triste com uma amiga que me machucou muito, estava muito irado, pensando como eu sou bobo e como o mundo é injusto. Eu estava profundamente decepcionado, mas me inspirando na Bíblia, escrevi estes versos, lembrando que eu já tenho tudo, e mais do que eu possa imaginar.

Eu não mereço

Deus Eterno, sou tão pequeno diante de ti!
Número nenhum lhe pode ser proporcional
Apesar de os números serem infinitos
Tu és de uma grandeza que supera o infinito.
Coas com a mão todas as estrelas do universo
E brincas com as galáxias empurrando-as com teu dedo.

Poderoso Deus! Onde estou com a cabeça?!
Por que vejo tudo isso e ainda não entendo?
Se tudo ao redor está cheio do teu amor!
Foi o Senhor quem criou tudo,
Tudo do nada,
Para que possamos vê-lo, mesmo que invisível,
Em toda a natureza.

Fitar o céu:
Azulzinho pela manhã,
Em tons ciãs à tarde,
Vermelho quando o sol deita
E numa escuridão tranquila, trazendo a noite.

Deus, eu não mereço ter meus olhos
Ainda que imperfeitos.
Não mereço sequer ver as sombras das coisas
Ou um simples borrão de toda tua beleza
Enquanto muitos não têm minha vista
E mesmo assim são gratos.

Eu não mereço ter minha audição
Que me faz escutar os sons dos passarinhos na mangueira,
Tecendo felizes seus ninhos
Cantando a alegria de ser uma criatura tua.
Eu não mereço ter meu sonho de ter meu ninho,
De ter minha família, de ter minha esposa,
De transferir à próxima geração o legado da tua Palavra
E ensinar aos humildes teu amor profundo.

Eu não mereço ser usado pelo Senhor
Para ajudar outras pessoas
Nem de fazer que Tua Luz brilhe no mundo
Tampouco mereço o simples dom de falar,
De te bendizer, de te louvar, de cantar a ti
E ainda mais do que falar,
Não mereço sequer o ar que enche meus pulmões,
Que circula dentro do meu sangue
Bombeado pelo meu coração
E inundando todo meu corpo por dentro,
Para chegar a cada célula.

Eu não mereço que minhas conexões sinápticas
Funcionem e transportem a energia do meu pensamento.
Nem mereço a capacidade de somar letra com letra
E montar versos com sentido
Que lhe agrade como oferta.

Eu não mereço a força com que empunho o lápis,
Sequer sentir o lápis e as coisas mais gostosas do paladar.
Sentir o Senhor soprar a brisa do mar
Ou o sol tocar minha pele
Ou o frio entranhar em minhas carnes.

Eu não mereço ser um milagre,
Pois a vida é um milagre
Dentro de um universo cheio de coisas inertes.
Eu não mereço receber Teu Sopro de Vida
E ter sido criado do barro da terra
Para voltar à mesma terra.

Eu não mereço ter o Senhor como meu Criador,
Nem te dirigir a Palavra.
Se não fosse Cristo, minhas palavras seriam inúteis,
Seria como rasgar fora este papel:
De nada adiantaria.
Mas a cruz, erigida no Calvário,
Me aproximou de ti
E agora eu posso falar contigo
Com a intimidade de um grande amigo.
Posso te abrir o livro de meu coração
E, destrancado e vulnerável,
Chorar contigo,
Rir contigo
E receber de tua correção.

Eu mereço a cruz,
Mereço sofrer as penas de Cristo
E ter os ferros cravados em meus braços.
Mas o Senhor me evitou a morte do Espírito
Morrendo de todas as formas por mim.

Eu não mereço, e a cada palavra desses versos
Percebo o quanto não te mereço.
Estava no poço, no mais fundo dos poços
Onde o lodo me entrava pelas narinas,
No local mais fétido e desagradável.
Era teu inimigo assumido
E o Senhor, com toda tua pureza
Me arrancou do pecado que te desagrada,
Me lavou de toda culpa
E tem me lavado, dia após dia
Com teu infinito perdão,
Aos borbotões derramado sobre mim.

No entanto, quantas mais linhas invado neste caderno,
Mais necessito de tua comiseração,
Pois meu coração ainda não entende.

Sou rico, no entanto me sinto pobre,
Meu cálice transborda mas sinto sede.
Somente a ingratidão é capaz disso.
Sou um ingrato filho pródigo,
Um escravo que quer ser rei,
Ser servido na mais horrenda glutonaria.

Mas o Senhor é justo e tem dado tudo na medida certa.
O Senhor é amoroso e tem me feito tudo
Para que eu esteja satisfeito
E alegre com teu cuidado.

Pois cada fio de cabelo em minha cabeça
Está sendo cuidado pelo Senhor
E isso é motivo para eu estar tranquilo.
Pois o teu amor tem transbordado sobre mim
E se penso em tudo o que escrevi até agora
E penso nos detalhes de cada segundo em minha vida,
Fico constrangido
E ao mesmo tempo indignado
Por causa de teu amor não correspondido.

Como posso ser tão mau com o Senhor?
Como meu coração ainda pode insistir?
Como o fogo do céu ainda não consumiu
Minha natureza decadente e pecadora?
É teu perdão que não me deixas perder
E é tua misericórdia que me alveja,
Afastando de mim minha culpa,
Me colocando um novo coração
Mais alvo que o brilho do sol.

Mas mesmo diante do teu ininteligível perdão
Meu coração é inerte
E, se move, é retrógrado,
Cada vez mais longe de ti.
Mas o Senhor é bondoso e me abraça,
Me cerca de inúmeras maneiras,
Põe meus olhos com teus olhos
E alinha minha mente com a tua,
Plantando teus preceitos no meu coração.
Assim meus pés nunca falham,
Estão sempre firmes no estreito caminho
Que Teu filho unigênito trilhou.

Deus, eu sou feitura tua
E assim como os passarinhos que te descrevi,
Eu quero cantar tamanha felicidade!
De alé disso tudo, poder ser teu filho
E morar contigo uma eternidade!

Te louvarei todos os dias da minha vida!
Que o cântico de louvor dos teus santos
Alcance os tímpanos do ser humano mais distante
E esse júbilo contagie coração a coração
Numa marcha ao fim dos dias!

Tua Palavra sempre será ouvida
Por corações sinceros,
Tua Palavra sempre será praticada
Por vidas humildes
E tua Palavra sempre será anunciada
Por lábios que te bendizem.

Os pecadores te ouvirão, ó Senhor.
Teu inimigos te louvarão de alegria,
Exércitos e meis exércitos das antigas hordas
Levantarão dos destroços
Jurando lealdade eterna ao único Rei
Cujo nome é maravilhoso e puro demais
Para meus lábios pronunciarem.

E este teu sonho, que agora é meu,
Está se cumprindo,
E como pó se espalhando
Por todas as nações.

Eu não mereço ser tirado dos refugos onde eu me escondia
Para morar na tua luz, vivendo teu sonho.
Mas mesmo não merecendo,
Sei que é a única chance que tenho
Para te servir e retribuir
O imensurável amor a mim oferecido,
Amor que deve ser convertido
Em gratidão profunda.
Pois o que eu mais merecia
O Senhor não deu:
A tua ira destuidora.
Mas o que eu não merecia
O Senhor me ofereceu:
A tua graça salvadora
Que permanecerá para todo sempre,
Amém!

Majestade

Toma manto e cetro,
coroa e anel.

Me reina

Com mão de ferro
me põe no teu afago suave.

Sou teu servo.

Convocas exércitos ao redor de mim,
teu trono de marfim permanece.
Primeira e última palavra tens.

Me curvo aos teus pés
e teus ensinamentos serão ordens.

No território de minha mente
milícias cercaram com tua Palavra
toda a extensão fronteiriça,
impedem o que não vem de ti entrar ou sair.

Tu és majestade,
minha vida são teus domínios.

Meu Anjo

Há quem afirme avistar anjos.
“Querubins são fantásticos!” - vos diria Ezequiel.
Um punhado de homens avistara somente um resplendor da Glória;
Outros tantos, sequer viram algo.
(embora sabe-se de anjos simulando nosso corpo de barro
como avistou Abraão)

Eles são servos, nisto se traduz seus nomes,
vêm à terra oferecer seus trabalhos
a fim de honrar O Altíssimo.

Um desses anjos, enfurecido, exterminou exércitos,
o mesmo (talvez) que derramou as Taças da Ira.
Outro deles confortou o Filho no Getsêmani
às vésperas da cruz.

Um anjo resolveu entre nós viver;
Tão apaixonado por ser humano
lançou-se das alturas para a terra
a fim de experimentar a vida dos mortais
(a dura vida dos mortais)

Eu sei onde este anjo está!
Os anjos são fracos em se disfarçar,
seus corações logo os revelam:
Corações grandes, extremos altruístas,
neles cabem muitos e muitos amigos
e muitos mais são acrescentados
porquanto o amor estende ainda mais esses corações.

Seu olhar atencioso, para de presto ajudar
denuncia seu aprendizado com o Deus Protetor,
pois somente Ele leciona o cuidado
somado à paciência inextinguível,
a servidão humilde, o desejo benevolente de contribuir,
tudo isso com um sorriso de gratidão
que faz a vez da auréola e a cintilância que tenta disfarçar.

Talvez os cabelos de Cristo
também foram afagados por esse anjo
enquanto pranteava pelo Jardim.
Quem sabe também não seja o mesmo
que dos céus olhava por Israel no deserto?

Reconheço estar sendo guardado por esse anjo
imerecidamente.
Anjo que é o mesmo que uma mãe,
preocupa-se, cuida com um amor constrangedor;
Como uma amiga, abro a ela o livro da minha vida,
descanso em nossas conversas o feixe de desapontamentos
e ouço mais que palavras: conselhos;
Irmã de sangue
(não o sangue corendo em nossas veias, mas o de Cristo),
Compartilhamos a infindável riqueza espiritual,
esperando os portões do céu abrirem
ao som de nossos nomes chamados.

Minha mãe, minha tia, minha irmã, minha amiga, meu anjo.

Ágape

Eu te amo
não te amo por causa da matéria,
pelo que passa, pelo que enferruja.
O valioso de nada vale.

Não te amo por dever,
amor nunca foi um jugo.
Eu te amo, somente.

Somente te amo por uma condição:
Que não sintas obrigação de receber
nem necessitas retribuir.

Sou ignorante quanto a mim mesmo
o que é meu não tenho posse mais
Meu, somente teu bem,
minha vida num holocausto.

Eu te amo porque tu és,
eu te amo apesar de qualquer coisa,
eu te amo num verbo indizível:
só se conjuga agindo

As Ondas

Na praia, nas pedras o vento brame,
Passa o sopro rápido, assalta o silêncio,
Rasteja rente ao mar e o empurra,
O oceano atiça.

O mar: com feroz voracidade
Sepulta os desafortunados navegadores.
Nele jaz Alexandria, jaz o mito de Atlantis;
Ainda mais misterioso que eles
E contraditoriamente cheio de vida.

O vento instiga o manto d’água,
Contorce-se impassivo, compulsivo.
Contrai-se mais, avança a orla,
Saliva toda a areia, saboreia pequenas pedras.

Noutro front,
As águas guerreiam contra as pedras do mirante.

O vento vivificado uiva,
Solta sussurros, silvos.
Ondas feito martelos
Desmancham-se estrondosas
Contra as rochas.

De brado amedrontador
Lançam-se sem vacilo
Quais kamikases desesperados,
Cheios de ódio.

As pedras, ao contrário, não ameaçam.
Esperam, talvez ao fim das eras,
Tão silenciosas, tão mansas,
Todavia tão firmes.

As ondas abordam o mirante num turbilhão altissonante.
As pedras permanecem no mesmo lugar.
Somente uma delas se move,
Mas logo volta à posição inicial.
Depois, outra onda ataca,
Mais outro turbilhão,
Outro, outro e mais outro
E é assim toda a tarde,
Cai a noite e o outro dia.
Passam-se os dias e o oceano altivo
Em todo seu escândalo
Não conseguiu mover as pedras.

Sou como essas ondas.
Lanço contra os céus impropérios
Encharcados de orgulho,
Me debatendo contra as pedras.
Todas minhas queixas
São tão tolas frente à brevidade da vida.

Por mais que eu confronte,
Recalcitrante e mau,
Meu Deus permanece impassível.
Fixo, em sua paciência monumental.

Duelo

Os punhos alcançam a face do oponente.
Os pés de apoio sustentam
Neste tenso desequilíbrio
De forças antagônicas.

Os poros deixam vazar gotículas milhares de suor
Amontoadas uma a uma
Qual um caldo brilhante
Lubrificando
E por lubrificar, dificultando o atrito das peles,
Prologando mais a luta.

O chão roja pela pele
Escalavrando a áspera tez
Esculpindo nela inquieta dor.

Um tateia sobre o dorso do rival
Onde fincar as unhas.
Espesso e rubro visgo
Vaza feito rio
Tingindo os lutadores.

Ora um permite sua face bater,
Ora outro cede ao enfado das horas

Espírito e carne, dois duelistas.

Quem é o perdedor?
De quem é a vitória?
Esse combate vai além do sol se pôr

Essa guerra infinda
Dura o resto da vida.

O caminho

O caminho é longo e difícil.
Confesso, meus pés desejam os atalhos
e por isso, meu Pai, me humilho
pra te pedir ajuda.

O caminho é difícil
e somente quem o anda sabe o quanto é difícil,
por isso me avisaste desde o começo.

Eu quero olhar para trás, meu Pai,
mas não quero olhar para antes de eu ter pego este caminho,
olhar para trás para me dar conta do quanto já andei,
pois foi muito
e tenho medo de minha memória apagar.

Deixa-me olhar mais para a frente também, meu Pai!
dá-me o vislumbre da tua glória, Senhor!
Há um prêmio no final do caminho
o qual eu não penso em perder de forma alguma.

Fortalece minhas pernas
e minhas convicções fracas.
O mundo é um ímã gigante
e já estou cansado desse vazio dentro de mim.

Eu tento fugir,
mas não existe nenhum lugar seguro,
só em ti.

O caminho é longo,
meus pés cheios de bolhas pedem um descanso,
O teu imenso amor, ó Pai, é meu descanso.
Meus ossos viram bronze,
sinto tua mão me segurando
e me empurrando para a frente.

Obrigado, Senhor, porque nunca desistiu de mim,
mesmo conhecendo minha maldade.
O teu Espírito vive em mim,
preenchendo vazio adentro.
Por favor, me recicla
para que eu possa sempre fazer tua vontade
todos os dias de minha vida,
pois sei como é bom estar contigo.

Minha vontade é de pegar um atalho
e tentar voltar ao teu caminho mais tarde,
mas nem sei se haverá esse tempo
e sei que esses atalhos não têm volta,
são todos caminhos perdidos.

O caminho é longo e difícil
mas Tua Luz brilha no fim como um sol.

Faminto

Estou com uma fome imensa,
lanchonetes, restaurantes,
em todos esses lugares me enfastio.

Mesa farta, barriga cheia,
ainda sinto essa fome.

Esta fome me devora!
Não há homem capaz de sobrepujar
esse leão desesperado.

Me entrego a essa fome,
meu espírito sedento põe os joelhos no chão,
rendido e mais que humilhado.

Minha alma tem sede de ti, meu Pai,
sede da tua tua Palavra,
esta que me nutre e sustém.

Dá-me deste mesmo alimento sagrado
o qual alimentou Cristo
quarenta dias inteiros no deserto.
Estou num deserto espiritual.

A vacuidade do dia-a-dia
acrescentou-se ao vácuo dentro de mim.
A ausência é cada vez mais abundante
numa vida que corre sempre atrás do vento.

Dá-me desta água para que eu nunca tenha sede
estou faminto e sedento,
de mãos calejadas do enfado da labuta
e dessa guerra cruel
a qual tenho me entregado.

Conta-me teus feitos grandiosos,
faz-me lembrar de cada um deles em minha vida
e com um brilho diferente no olhar
quero admirar e adorar
esse meu Deus que cuida de mim.

Sacia essa vontade da minha alma,
mas mesmo que eu esteja satisfeito,
dá-me sempre essa fome
para que eu sempre busque tuas fontes.

No Jardim da Solidão

No jardim da solidão
faço-te a última oração,
um clamor desesperado
atrás de alguma alternativa.

Às vésperas do massacre
não compete a mim lamentar minha vida,
sofrerei na minha carne a dor dos outros;
o castigo de multidões convergirá em mim,
receberei tudo injustamente
para executar a misericórdia.

Sim, eu tenho todo o poder em mãos
e como homem me é tentador usar,
mas beberei dessa taça vermelha
de líquido amargo.

A cruz tem um peso imenso,
tem o peso do mundo,
que meus ombros vacilam a suportar.
Oh, Pai! Fortalece meus ombros
e meus pulsos,
pois eu sou a única esperança.

O gotejar rubro grava no chão
palavras de ânimo e consolo;
ainda mais, teu querido anjo, ó Pai,
veio me dar forças.

Lembrar dos pequeninos distantes de ti,
pobres filhinhos,
deixo de pensar em minha carne.
Minha vida é a tua vontade,
foi para isso que eu vim,
então eis-me aqui.

Muro

Meu amigo, desça desse muro,
Fique comigo ou do outro lado,
mas não decida a neutralidade.

Camarada que ousa ficar aí em cima:
prefere a comodidade de assistir a tudo
de teu sofá de couro,
tua poltrona reclinável,
alheio a esta guerra desconfortante
vendo aqueles que te amam tombar?

Acima deste concreto
você fantasia tantas coisas
mas um dia desses a realidade deixa de bater à porta
para arrombá-la
e se mostrará nua e crua, face a face.

Portanto arranque as escamas opacas das retinas,
abra os olhos da alma,
martele seu coração rochoso,
eis a verdade ao redor:
esta guerra a cada dia mais sangrenta.

Desembainhe a espada!
Volte a ser louco como nós,
este é o melhor caminho.

Então desça daí de cima dessa parede
pois você sabe muito bem
que esse muro não existe.

Para Todos

Para aquele que está cansado
Ele é descanso;

para aquele que carrega fardos
Ele é alívio;

para quem quer retornar
Ele é o caminho;

para quem tem medo
Ele é segurança;

Para os doentes
Ele é cura;

para os debaixo da sombra da morte
Ele é ressurreição;

para os que estão felizes
Ele transborda essa alegria;

para os que choram
Ele conforta;

para os que estão salvos
Ele é o motivo;

para os perdidos
Ele é estrela guia;

para os necessitados
Ele sacia;

para os que estão no meio da tempestade
Ele a acalma;

para os que estão cansados de tentar
Ele é mais uma chance;

para os maus
Ele é amor;

para os bons,
idem;

para os fracos
Ele é força;

para os fortes
Ele é delicadeza;

para os ramos cortados
Ele os enxerta.

Ele é tudo para todos,
ele aceita cada um como for,
Nosso Senhor e Deus.

Testamento

Quando eu me for, decrete feriado,
serão as férias de minha pessoa.
rejeite o luto,
use cores alegres
e faça uma festa com muitos convidados,
pode deixar que tudo eu pago.

Quando eu me for, meus filhos cantarão,
os velhos se deliciarão narrando minhas histórias,
as bandas tocarão nos coretos das praças;
não será dia lacrimoso,
os fogos desabrocharão no céu estrelado.

Quando eu me for, não me deite abaixo do solo,
desejo subir aos céus como o incenso faz,
lá no alto tocar a imensa cúpula;
não grave meu nome nas lápides,
prefiro meu nome gravado na memória dos que me amam.

Quando eu me for, não desperdice suas lágrimas comigo,
se chorar, que seja extravasando alegria
como no final de um espetáculo:
meu viver tem sido um espetáculo de Deus,
eu fui apenas um palco.

Quando eu me for, não feche o livro de minha vida,
retire as páginas que restarem dele
e redistribua em outros livros
porque assim permanecerei mais que a eternidade,
continuarei sendo escrito na vida de outros.

Ouvi falar dele

"Então Simão Pedro, que tinha espada, desembainhou-a, e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. E o nome do servo era Malco.
Mas Jesus disse a Pedro: Põe a tua espada na bainha; não beberei eu o cálice que o Pai me deu?
Então a coorte, e o tribuno, e os servos dos judeus prenderam a Jesus e o maniataram.". João 18:10

Ouvi falar dele,
narravam-me sobre seus atos
principalmente seus conselhos notáveis.

Ouvi falar dele,
os outros guardas relatavam suas polêmicas.
Sapientíssimo, com sabedoria persuadia
ou enraivecia os ditos sábios.

Ouvi falar daquele homem,
sobretudo pelas maldições
que os sacerdotes dirigiam ao seu nome.

Ouvi falar daquele homem,
ainda mais sobre suas curas,
e foi por meio delas o conheci.

Fui designado no breu da noite alta
a capturar o homem de Nazaré;
entre as trevas, com os outros guardas.

Pronto para enfrentar uma insurreição,
deparei com um homem suave,
traído por um beijo, por um dos seus amados.

Aquele homem não reagiu às correntes,
pelo contrário, firme se permitiu maniatar,
deixou-nos subjugá-lo.

Entanto, no desespero da captura
seu servo reagiu,
brandiu sua luzente espada;
ouvi-lhe com ela cortar o ar
e minha orelha direita.

Caído ao chão, senti a viscosa quentura do sangue
escorrer pelo pescoço e barba,
gotejando de minhas mãos.

Em meio a tanto alvoroço,
os seus o abandonam,
enquanto aquele homem veio até mim
para me curar.

Senti suas mãos misericordiosas
ligarem as cartilagens de minha orelha.
Senti-me maravilhado e perplexo diante desse milagre.
Ele me humilhou humilhando-se a mim.

Com a nova orelha ouvi-lhe pasmado dar ordem ao servo:
“guarda a espada”, “beberei do meu cálice”...
ao ouvir, lancei fora minha lâmina
e comecei a seguí-lo.